Por Roberto Maia
O futebol brasileiro vive um momento de profunda transformação financeira, com clubes buscando alternativas para superar décadas de gestão amadora. A criação das Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs) surgiu como uma possível solução para os problemas econômicos dos times, mas os resultados ainda são controversos e desafiadores.

O Corinthians, detentor da maior dívida entre os times da Série A, com mais de R$ 2 bilhões, conseguiu essa semana uma liminar judicial que suspende execuções de cobrança por 60 dias. Esta medida permitirá que o clube negocie dívidas civis e trabalhistas de curto prazo, que totalizam aproximadamente R$ 200 milhões. A estratégia inclui até mesmo uma vaquinha da torcida organizada Gaviões da Fiel, que já arrecadou mais de R$ 25 milhões – até o momento em que eu escrevia este artigo - com o objetivo de quitar a dívida da Neo Química Arena junto à Caixa Econômica Federal, demonstrando o envolvimento e a mobilização dos torcedores diante da crise financeira do clube.
Em contraste notável, o rival Palmeiras apresenta um cenário financeiro completamente diferente. O clube alcançou, pela primeira vez, R$ 1 bilhão em receitas em 2024, com um superávit acumulado de R$ 191 milhões – muito além dos R$ 4 milhões projetados inicialmente. O acordo com a WTorre sobre o Allianz Parque foi fundamental para este resultado, evidenciando como negociações estratégicas podem impactar significativamente as finanças de um clube.
A experiência do Vasco, que caminha para sua segunda SAF, serve como um alerta importante. A mera mudança de modelo societário não garante automaticamente a saúde financeira. É necessário muito mais do que uma transformação legal: são fundamentais planejamento estratégico, gestão profissional, transparência e uma compreensão profunda dos desafios econômicos do futebol brasileiro.

As fontes de receita do Palmeiras ilustram um modelo de gestão eficiente. Em outubro, o clube obteve R$ 103,5 milhões em rendas diversas, R$ 10,8 milhões em publicidade, R$ 10,6 milhões em direitos de transmissão e R$ 6,2 milhões do programa de sócio torcedor. Além disso, o Conselho do clube já aprovou o orçamento para 2025, prevendo novamente receitas superiores a R$ 1 bilhão, o que demonstra uma visão de longo prazo e planejamento cuidadoso.
A expectativa de que as SAFs seriam uma "salvação milagrosa" precisa ser revisada com cautela e senso crítico. A transformação não está apenas na mudança jurídica, mas na adoção de princípios empresariais modernos, transparência contábil e gestão profissional que verdadeiramente modernizem a administração dos clubes brasileiros.
O futebol brasileiro demonstra que não existe solução única ou simplista para os desafios financeiros. Cada clube precisa desenvolver estratégias personalizadas, considerando sua realidade específica, história, torcida e potencial econômico. As SAFs podem ser uma ferramenta importante, mas não substituem o planejamento cuidadoso, a administração responsável e a capacidade de inovação.
A verdadeira revolução financeira no futebol brasileiro dependerá da capacidade dos clubes de se reinventarem, atraindo investimentos, valorizando suas marcas, implementando modelos de gestão contemporâneos e, principalmente, mantendo o equilíbrio entre sustentabilidade econômica e paixão esportiva que move milhões de torcedores em todo o país.
Neste cenário complexo, ficam evidentes os desafios e as oportunidades. A transformação não será instantânea, mas requer comprometimento, visão estratégica e uma nova mentalidade administrativa que supere os métodos ultrapassados de gestão.

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br
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