Por Fernando Jorge
São chamadas de pessoas metidas a besta as pessoas orgulhosas, cheias de si próprias e que se julgam superiores a todas as outras pessoas. Já encontrei várias criaturas assim, quase sempre burras, ao logo da minha vida de escritor e jornalista, de jurado de programas de televisão.
Quando fui entrevistado pela segunda vez pelo Jô Soares, no estúdio da TV Globo, aqui em São Paulo, entrevista gravada, encontrei antes de dar a entrevista, uma pessoa assim, e bem metida a besta. Era uma jovem que também ia ser entrevistada pelo Jô Soares, dotada de pouca beleza e participante de uma telenovela da TV Globo. A jovem estava de cabeça empinada, de pé, e recebia com ar altivo, queixo muito erguido, os cumprimentos das pessoas ali presentes. Recebia os cumprimentos sem agradecer. Percebi logo e pensei: é metida a besta. Também a cumprimentei e ela, com ar superior, nem agradeceu.
Foi a primeira entrevistada, porém se mostrou chata, inexpressiva. O Jô Soares, grande comunicador, esforçou-se para obter dela algo curioso, interessante. Esforço inútil. A entrevista recebeu palmas fracas.
O segundo entrevistado foi um médico, que se saiu bem, respondendo ao Jô de maneira feliz. Obteve aplausos.
Fui o terceiro entrevistado. Modéstia à parte, eu me sai bem, durante a meia hora da entrevista, a propósito do meu livro Hitler, retrato de uma tirania. Fui muito aplaudido, agradei, mas por favor, não me julguem convencido...
A produção do programa do Jô Soares pediu a mim para eu, após a entrevista, sentar-me ao lado do médico e da moça. No momento de me sentar, recebi vários cumprimentos, inclusive do médico. Todavia, a única pessoa que não me cumprimentou e me olho com ódio, fúria, despeito, foi a atrizinha da TV Globo metida a besta.
Amigos leitores, qual é a minha culpa, se brilhei mais do que ela? Sentiu-se apagada, feri a sua imensa vaidade...
Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.
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