top of page
Buscar

É tão absurdo como dizer que abóbora não é abóbora, é melancia

Foto do escritor: Fernando JorgeFernando Jorge

Por Fernando Jorge

Crédito: Reprodução

Fiquei impressionado com a repercussão da minha crônica sobre a revista Moda, do jornal O Estado de S.Paulo. Esta revista é muito bem-feita, graças ao talento da editora-executiva Marilene Ramos, da editora de conteúdo Alice Ferraz, da editora-chefe Ana Carolina Ralston. Mulheres de espírito aberto, democrático, aceitaram publicar na linda revista, cheia de ótimas fotos coloridas, um texto do senhor Nilton Bonder, com o título “A fé não pode falá”, e não o correto, que é “falar”. Decerto, vendo este erro de português, “falá”, e não o correto, que é “falar”, raciocinaram assim, “é um erro proposital, uma gozação.” Mas o erro não foi proposital, foi erro mesmo do autor.

Garantiu o senhor Nilton Bonder no seu texto:

“A fé é o contrário da crença”.

Não é, senhor Bonder, não é, consulte o verbete Crer na página 466 do segundo volume do Dicionário ilustrado da língua portuguesa, do professor Antenor Nascentes, e leia isto:

“Crença... ter fé...”

Ora, se crer é possuir fé, eu afirmo categoricamente, a fé e a crença são irmãs gêmeas, ambas não se distinguem uma da outra... Cito aqui, como exemplo, o verbete Crer da página 421 do Dicionário de usos do português no Brasil, da autoria do professor Francisco S. Borba, obra lançada pela editora Ática:

Crer... ter fé ou crença”.

Foi por causa da identidade, ou melhor, da semelhança existente nos dois substantivos femininos, que Francisco Fernandes colocou estas palavras num verbete do seu dicionário de sinônimos do nosso idioma:

sin (sinônimo) Crença...”

Garantir, na minha opinião, como declarou Nilton Bonder, que a fé é o contrário da crença, é tão ilógico, tão absurdo, como dizer que abóbora não é abóbora, é melancia, que feijão não é feijão, é milho, que açúcar não é açúcar, é sal, que eu, Fernando Jorge, não sou feio, sou tão bonito como o príncipe que despertou Branca de Neve do seu sono profundo...


Fernando Jorge é jornalista, escritor, dicionarista e enciclopedista brasileiro. Autor de várias obras biográficas e históricas que lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio Jabuti de 1962. É autor do livro “Eu amo os dois”, lançado pela Editora Novo Século.

コメント


bottom of page